– Será diferente com “Cidade Jovem”?
O Presidente da República, Daniel Chapo, dirigiu na quintafeira, 02 de Abril, em Maputo, a cerimónia de lançamento do projecto habitacional “Cidade Jovem”, fruto de uma parceria entre o Governo moçambicano e o sector privado. Trata-se de um projecto desenhado especialmente a pensar na juventude, que tem na habitação um dos maiores desafios. Ainda assim, o seu lançamento não gera entusiasmo nesta camada social, que se mostra descrente depois de, outrora, ter visto semelhantes iniciativas que não chegaram a sair do papel na cidade e província de Maputo.
Texto: Amad Canda
Foi lançado em Maputo, mas é um projecto de âmbito nacional, enquadrado na Política de Habitação do Governo. Na capital moçambicana, prevê-se a construção, no bairro da Costa do Sol, de 5.748 apartamentos, torre panorâmica, espaços de lazer, centro comercial, entre outros empreendimentos, numa área de mais de 1 milhão de metros quadrados.
No acto do lançamento, e provavelmente com o fito de sossegar os ambientalistas, Daniel Chapo garantiu que nenhuma das lagoas presentes na região será mexida, acrescentando que as mesmas servirão para a realização de passeios de barco, o que traz o espectro de uma mini-Veneza em Maputo. Contudo, nem o esplendor daquela romântica cidade italiana, muito menos o entusiasmo do Presidente, foram capazes de gerar optimismo em torno da iniciativa, orçada em USD 2 biliões.
As redes sociais são a face dadescrença, especialmente entre a juventude. À mesma altura que o projecto era lançado, os murais das mais diferentes plataformas eram pintados por frases de cepticismo, fundamentado por um histórico de incumprimento de promessas similares.
“Cadê o Casa Jovem e o Uxene Smart City”?
Não são poucos os que, rebobinando a fita da memória, lembraram que, precisamente numa área próxima àquela onde se projecta a construção do também denominado Projecto Phoenix, deviam estar “de pé” mais de 2.000 apartamentos dos tipos 1 a 4, integrados numa cidadela baptizada como Casa Jovem, que também incluiria áreas de comércio, escritórios e serviços, e espaços de lazer.
Volvidos 15 anos desde o lançamento da iniciativa, resultante de uma parceria entre o Grupo Imox e a Fundação Joaquim Chissano, a abundância do espaço baldio revela fracasso na concretização do objectivo. Há 09 anos, uma reportagem do semanário Domingo revelava que estavam erguidos apenas 96 apartamentos, condensados em cinco prédios. A crispação entre os sócios e o consequente rompimento da parceria foram apontados como uma das principais razões do fracasso do projecto, que levou muitos a endividarem-se para pagar apartamentos que nunca mais foram concluídos.
Ainda mais ambicioso é o projecto “Uxene Smart City”, anunciado a plenos pulmões em Dezembro de 2022. Orçado em USD 3,5 mil milhões, este projecto foi apresentado como plano de criação de uma “cidade inteligente”, no distrito de Marracuene, província de Maputo, numa área de 610 hectares que acolheria pouco mais de 100 mil habitantes. Para além das zonas residenciais, a sonhada cidade incluiria um centro de negócios, um hospital, uma universidade, um parque ecológico, entre outras infra-estruturas.
A verdade, porém, é que até ao primeiro trimestre deste ano, tudo não passou de uma quimera. Um litígio com mais de 300 cidadãos nativos, que reivindicam posse dos 767,5 hectares nos quais a cidadela deve ser erguida, vem sendo referido como o principal obstáculo à implementação da iniciativa. Todavia, em Outubro de 2024, o Tribunal Judicial da Província de Maputo dirimiu o litígio a favor da Milhulamete, mentora da iniciativa, conferindo a esta o uso de terra para os devidos efeitos.
Cidadela da Matola… boa noite, Cinderela
Na lista dos projectos imobiliários que parecem não passar de “letra morta” inclui-se ainda a Cidadela da Matola, anunciada aos moçambicanos em 2010, ainda era Arão Nhancale o presidente do Conselho Municipal da Matola. No âmbito deste projecto, iniciativa da empresa sul-africana McCORMICK – Propriedade de Desenvolvimento, PIC – Public Investment Corporation e a moçambicana SFI (consórcio constituído por empresas de investimento), perspectivava-se a construção de lojas, restaurantes, cabeleireiros, centro de saúde, spa, hotel, centro de conferências, escritórios, edifícios governamentais, centros culturais e praça, numa área de 46 mil metros quadrados, no terreno do antigo Centro de Transmissão da Rádio Moçambique.
À época, previsões apontavam que pelo menos o centro comercial estaria pronto em 18 meses, o que não se concretizou. De resto, o único edifício que saiu do papel na área em referência é o prédio onde funciona a edilidade. O resto, nem sombra, o que leva a que os moçambicanos duvidem da possibilidade de o Projecto Phoenix fugir do padrão
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PROJECTOS HABITACIONAIS: Maputo tornou-se “cemitério” de projectos imobiliários
abril 09, 2025
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