Gás em Suspenso: ExxonMobil avalia redesigneda planta LNG enquanto segurança continua frágil em Cabo Delgado
março 06, 2025
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Incerteza e Preocupação: ExxonMobil Avalia Data para Início das Operações em Palma
Por Quinton Nicuete
Cabo Delgado, Moçambique A incerteza em torno do megaprojeto de gás natural em Palma ganha novos contornos, à medida que a ExxonMobil continua sem definir uma data concreta para o início das suas operações na província. Segundo o diretor-geral da multinacional em Moçambique, Armando Afonso, a empresa está a estudar a viabilidade de anunciar essa data, mas a avaliação inclui agora um redesenho da planta do projeto Rovuma LNG com um conceito modular e elétrico, enquanto avança no FILD (Front-End Engineering and Design), um estudo de engenharia detalhada que deverá estar concluído até o final deste ano.
A declaração foi feita nesta quarta-feira (05-03), durante a inauguração de uma sala de informática da Escola Secundária de Alto-Gingone e entrega de 120 computadores a 8 escola da cidade de Pemba, o um inventário financiado pela petrolífera norte-americana. No entanto, apesar da projeção ambiciosa, a falta de uma data concreta para o início das operações lança um sinal de alerta sobre o comprometimento da gigante energética e a estabilidade da região.
A decisão final de investimento está projetada para 2026, e a empresa pretende aumentar a capacidade da planta dos atuais 15 milhões de toneladas anuais (MTA) para 18 MTA. No entanto, por trás dos números e projeções otimistas, paira uma preocupação crescente sobre a real viabilidade do projeto diante do cenário volátil de segurança em Cabo Delgado e da presença controversa das forças ruandesas na região.
O discurso de Afonso tenta demonstrar estabilidade, mas a realidade no terreno é mais complexa. O governo moçambicano confiou às tropas ruandesas o combate à insurgência jihadista que tem devastado a província desde 2017. No entanto, o envolvimento de Ruanda levanta sérias questões geopolíticas, especialmente devido ao seu alegado apoio ao grupo armado M23, que tem semeado o terror na República Democrática do Congo (RDC).
A dualidade do papel ruandês ao mesmo tempo combatente do terrorismo em Moçambique e patrocinador de uma insurgência em outro país, gera desconfiança e expõe a fragilidade da segurança na região. Será que as forças ruandesas estão verdadeiramente comprometidas com a estabilização de Cabo Delgado, ou apenas protegem os interesses estratégicos e económicos ligados à exploração do gás?
Enquanto a TotalEnergies suspendeu as suas operações em Afungi sem uma explicação clara, a ExxonMobil segue um caminho mais cauteloso, evitando declarações definitivas sobre a continuidade do projeto. Essa hesitação levanta dúvidas: estaria a petrolífera norte-americana a ganhar tempo enquanto avalia o futuro político e de segurança na região?
A ExxonMobil reforça que nunca parou as suas operações no distrito de Palma, mesmo durante o pico da violência terrorista. No entanto, especialistas alertam que qualquer investimento na região ainda depende da estabilidade duradoura algo que, até o momento, não está garantido.
Se a multinacional francesa recuou por motivos que não foram totalmente divulgados, poderia a ExxonMobil enfrentar os mesmos desafios? E mais importante: será que Moçambique corre o risco de se tornar um tabuleiro de interesses externos, onde a exploração de gás está subordinada a dinâmicas geopolíticas mais amplas?
O gás natural da Bacia do Rovuma representa uma esperança para a economia moçambicana, mas a concretização desse potencial ainda depende de variáveis incontroláveis. A presença militar ruandesa, a instabilidade persistente e os jogos de influência internacional tornam o futuro do Rovuma LNG um verdadeiro enigma.
Enquanto a ExxonMobil estuda o redesenho da sua planta e avança no FILD, o governo moçambicano precisa de respostas concretas: a segurança na província será duradoura, ou continuará a ser uma ilusão frágil, vulnerável a interesses estrangeiros?
A decisão final da ExxonMobil em 2026 pode ser um divisor de águas para Moçambique. Mas, até lá, a questão central permanece: o gás moçambicano será explorado para beneficiar o país ou continuará refém das incertezas globais e das sombras do conflito? (Moz24h)
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