Pela primeira vez na sua história, Moçambique testemunhou, esta semana, a assinatura do primeiro acordo político multilateral, envolvendo, desta feita, o Governo e nove partidos, visando a implementação de um pacote de reformas tendo em vista o bem-estar dos moçambicanos.
Ao contrário das ocasiões anteriores, em que os entendimentos foram sempre bilaterais – Governo e Renamo – nesta participam também os partidos Frelimo, PODEMOS, Renamo, MDM, ND, PARESO, PAHUMO, PARENA e Revolução Democrática (RD).
A inclusão de novos actores, para além dos habituais dois, é sinal de maturidade democrática, assente no princípio de que todos temos uma palavra a dizer quando o assunto é o nosso bem-estar, independentemente das diferenças ideológicas que sabemos existirem.
Mais do que simples facto histórico, é ponto de partida para resolver não só os problemas políticos suscitados pelas últimas eleições, mas também para sanar questões profundas de cariz económico e social rumo ao novo Moçambique que queremos.
Pode-se dizer que o documento faz renascer a esperança dos moçambicanos de ver resolvidas, na mesa de negociações, muitas das suas diferenças, colocando sempre o interesse nacional acima de tudo.
Trata-se de uma plataforma nova no país, cuja eficácia na resolução dos problemas gera expectativa, numa altura em que críticos entendem que a não participação de Venâncio Mondlane, um dos candidatos presidenciais derrotados, nos debates, pode minar o processo.
Este ponto de vista assenta no argumento de que Mondlane é o principal mentor das manifestações que não raras vezes terminam em violência contra pessoas e património, sendo que a sua “exclusão” pode comprometer o alcance dos objectivos preconizados, tendo em conta a franja de seguidores que tem.
Acontece que a metodologia escolhida pelo Presidente da República consiste em, nesta fase, privilegiar-se a participação de representantes de partidos, o que à partida põe de fora Venâncio Mondlane, que não tem, actualmente, qualquer vínculo formal político-partidário.
Entretanto, seja como for, fazemos fé na perspectiva dos signatários do documento rubricado na quarta-feira, os quais prometem nas etapas subsequentes abrir o fórum de diálogo para actores políticos e sociais.
Acreditamos, igualmente, ser este um ponto de partida para iniciar o debate do país, desde que todos os envolvidos se dispam das cores político-partidárias ou extractos sociais que representam para encarar os problemas e propor as atinentes reformas, sem olhar para o benefício pessoal.
Não temos ilusão de que será processo fácil, até porque os problemas controvertidos são complexos, porque sensíveis. Referimo-nos, por exemplo, às reformas da própria Administração Pública, dos pacotes eleitorais e de governação descentralizada, que no fim do dia implicarão rever a Constituição da República.
Mesmo não resolvendo, de imediato, o problema da instabilidade, o compromisso é uma plataforma que sinaliza a criação de bases para reformas para as instituições funcionarem.
Significa que não é razoável que o país continue a viver a desordem que vive, porque passou a ter um fórum próprio para discussão, onde todos poderão apresentar as suas reclamações e depositarem seus sonhos.
Acreditamos, juntos somos mais fortes.
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EDITORIAL
março 07, 2025
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